Sobre o Equador - Galápagos parte 2 (Isla Isabela)

Nós passamos a virada do ano em Isla Isabela, que fica a duas horas de barco de Santa Cruz. Se você está hospedado em Santa Cruz pode fazer um tour bate e volta para Isabela por cerca de 100 dólares com almoço, mas nós queríamos passar alguns dias lá então pegamos um barco que custa 50 dólares ida e volta. Só saem em dois horários por dia, um as 7 da manhã e 3 da tarde. Você compra as passagens nas agências de turismo espalhadas pela cidade inteira.

Seguimos para Isabela no dia 31 de dezembro no barco das 7. Chegando lá tivemos que pagar 10 dólares para entrar na ilha e fomos recebidas no pier pelo Jackson, dono do hostel Cielo Azul, onde ficamos hospedadas. Todas as resenhas sobre o hostel no booking frisavam o quanto o Jackson era a melhor pessoa e ele realmente foi super solícito, nos recebeu com um suco de abacaxi fresquinho, explicou sobre os passeios na ilha, etc.

Sobre Isabela: a ilha tem 2000 habitantes, o mar mais lindo que já vi na vida e o mesmo wi-fi lixoso com o qual já tínhamos lidado em Santa Cruz (um pouco piorado, eu diria). Sorte que encontramos o BJ (não tenho maturidade, dsclp), um barzinho na beira da praia com cerveja gelada, pipoca na faixa para acompanhar e uma internet levemente melhorzinha que no resto da ilha.

Olha esse mar, Brasil!

Situação da praia dia 31 de dezembro

Por do sol e cerveja na muretinha do BJ

Como eu disse, a ilha tem 2000 habitantes e pouquíssimos turistas. A cidade onde nos hospedamos, que se chama Puerto Villamil, é minúscula. Sabe aquela sensação de que se o mundo acabar só sobra aquele lugar e a gente nem vai ficar sabendo? Tipo isso. No dia que chegamos andamos bastante para conhecer a cidade (15 minutos) e fomos fazer snorkel num lugar chamado Concha Perla (fomos a pé também, é tudo muito perto).

Concha Perla

Lobos marinhos na pista. Em Galápagos é assim, os animais (principalmente iguanas e lobos marinhos) estão em todo lugar mesmo

O ano novo: Antes vamos falar sobre o Jackson. O Jackson, segundo as resenhas do booking, era a melhor pessoa e olha, era mesmo. Nos pegou de carro no pier e nos levou até o hostel, nos recebeu com suco geladinho, nos deu dicas de como não sermos enroladas nos passeios na ilha, etc. Porém Jackson também nos deixou sem água quente, sem internet, sem papel higiênico e sem toalhas limpas durante nossa estadia lá. E a gente estava bem puta da cara de tomar banho frio quando o Jackson nos convidou para cear coma família dele no ano novo. Amor e ódio etc. 

O que os equatorianos comem no ano novo? Os equatorianos eu não sei, mas a família do Jackson comeu arroz, carne de porco, batata cozida e um vinagrete de cebola com coentro que eu comeria pra sempre em todas as refeições da minha vida. Bebemos coca-cola, espumante e seguimos para ver a queima de fogos no centro da cidade. 

Como eu disse antes a ilha toda tem uns 2000 habitantes. Puerto Villamil deve ter uns 1500, ou seja, talvez tenha mais iguanas e lobos marinhos que gente por lá. Uma parte desse povo estava na praça do vilarejo esperando a meia-noite. Muitas moças e crianças com roupas de gala, como se fossem a uma formatura ou casamento. Salsa, reggaeton e músicas típicas tocavam nos carros de som. 

Brasileiro branco de classe média adora se achar europeu (ain meus bisavós italianos mimimi) mas nessa noite eu percebi que a gente é muito mais latino que qualquer coisa. Achei tudo tão lindo, as músicas, as pessoas, aquele lugar. Tive uma sensação de pertencimento que não tive em lugar nenhum quando visitei a Europa. E aí deu meia-noite.

Meia-noite as pessoas no meio da multidão acenderam balões de papel (desses tipo de São João que são proibidos aqui). Muitos, de várias cores. Eu me dividia entre ain que lindo e gzuiz se cair numa árvore ou pegar num cabelo. No fim das contas é incrível mesmo e taí uma cena da qual eu vou me lembrar por muito tempo: os balões coloridos subindo no ano novo em Isabela. 

Houve uma queima de fogos tímida e uma banda de salsa animadíssima no palco até 3 horas da manhã. E houve as fogueiras.

Tanto em Santa Cruz quanto em Isabela nós cruzamos com uns bonecos que eu não sei bem de que material eram feitos. Em Santa Cruz vimos um Netuno enorme e uma aldeia inteira de Smurfs. Em Isabela tinha esse Patrick da foto e vários outros:

Meia-noite eles tacam fogo nos bonecos. Em tudo mesmo. A rua fica cheia de fogueiras, criançada brincando de boas em volta. Devem fazer o mesmo em Santa Cruz, pois voltamos para lá no dia 2 e os Smurfs tinham sumido. 

O que mais fazer em Isabela: A Bruna foi fazer uma passeio pra fazer snorkel mais pesado no dia 1 e eu não quis ir (medo de mar, lembram?). Passei o dia naquela praia lotada da foto acima, lendo, me molhando, filando internet do BJ enquanto tomava uma Club (a cerveja local) gelada. Férias boas são essas, que dão pra gente a chance de não fazer nada. No dia seguinte alugamos bicicletas e pedalamos 12 quilômetros até o muro de las lagrimas, uma construção de 8 metros de altura e cerca de 100 de comprimento feita depois da segunda guerra pelos prisioneiros de uma colônia penal que havia na ilha. 

Estas pedras foram empilhadas por prisioneiros entre 1945 e 1959, debaixo do sol e em condições desumanas. Muitos morreram no processo. Uma construção com uma história horrível em um lugar paradisíaco. 

O caminho até lá tem várias paradas bem sinalizadas em piscinas naturais, vale a pena fazer com calma. A gente fez rapidinho porque as 14:00 tínhamos que pegar o barco para voltar para Santa Cruz. 

Isabela fica como o lugar onde me apaixonei pela América Latina. Foi a primeira parada de muitas por esse continente. E ainda teve Quito, para terminar de aquecer meu coração.